Fernando Santos: ganhámos porque acreditaste e fizeste por isso
Fátima Pinheiro
fotografia da Lusa, antes de Fernando Santos anunciar os selecionados
Não existe nenhum Manual do género "Como ganhar um europeu". Cada caso é um caso. Mas os factos não enganam. Fernando Santos leu ontem uma carta que escreveu antes do campeonato, onde dizia que iria trazer para Portugal a Taça. Que antes de mais agradecia a Deus Pai, e que quando voltasse Lhe iria agradecer tudo, e que desejava e esperava que este acontecimento fosse "para glória do Seu nome." Porque acreditou, ganhou.
Acreditar não é uma fezada, muito menos um cruzar de braços. Acreditar é trabalhar. Neste caso saber selecionar. Ontem, mais uma vez, não pôs o Quaresma a jogar desde o início, ficou sem Cristiano Ronaldo, mas não baixou braços, nem perdeu a serenidade com a sacanice do francês, e, sem ninguém esperar, soube apostar, já no fim, no ilustre desconhecido que fez, com todos, a gota de água.
Não há futebol católico, como não há matemática católica. Há factos. E a verdade é que só é protagonista, só faz história, quem se arrisca todo em tudo, e quem arrisca tudo em todos. Também gosto de ti Cristiano. Mostraste o que vales. Quem tem autoridade para te cortar os joelhos ou as asas?
Há também duas cartas que eu lhe escrevi aqui, a ele, o engenheiro genial, antes da final, que diziam assim:
"Sei distinguir futebol e religão, como tu. Mas eu, pequenina, faço a minha vida no meu pequeno retângulo. Tenho contudo a certeza que poucos como tu, expostos como tu, fazem o que fazes. Eu seria capaz de assinar uma petição contra a eutanásia, aliás já assinei. Agora tu?! E assinaste, há dias. Estimo pessoas que não querem nem sabem dizer 'nim'. Esses - que sou eu às vezes - somos, uns baralhados, mediocres, e o mais não digo. Homens inteiros, há poucos. Meu nosso Fernando, alguém duvida de que vamos ganhar? Eu sei que no futebol há um baralho. Agora, o futebol é total, e eu acredito. Em ti.
Um beijinho."
E da segunda carta: "Keep your shirt on. Encontramo-nos em casa, na Vitória da Nação." Até já.